Jornal plastificado, que há 15 anos está no Guinness Book, foi idealizado para ser lido no mar.
Os jornais são feitos para serem lidos em casa, antes do trabalho ou, quem sabe, em cafés e livrarias ao longo do dia, certo? Errado. Ao menos para os leitores do Gibi Aquático, periódico mensal que aborda as novidades do mundo da arte e os assuntos que viraram notícia em Pernambuco e no Brasil. O mar é o lugar escolhido para a leitura e análise da publicação. Mas não bastasse o local, digamos, exótico, o jornal também é plastificado. Foi a solução encontrada pelos fundadores para adaptar o produto às intempéries do mar, driblando os efeitos do vento e da água. O jornal tem 18 anos de existência e há 15 ocupa um lugar no Guinness Book de Londres, o livro dos recordes. O Gibi Aquático está inscrito na categoria “jornal submarino”. A sua leitura é gratuita.
As fornadas da publicação são mensais, mas a cada dia novas páginas plastificadas são produzidas pelo jornalista Josué de Oliveira Lima, de 81 anos, também advogado, cientista contábil, economista e teólogo. As “folhas” são lidas e debatidas nas piscinas naturais da Praia de Boa Viagem, quando a maré está baixa, geralmente entre as 6h e 8h. O ponto de encontro é o quiosque 29, conhecido como a “barraca do Pereira”. O Gibi Aquático é uma colagem de textos em folhas de papel couché. O material é extraído de revistas, obras literárias, jornais diários de grande circulação e internet. Possui apelo jornalístico e insumo artístico. Tudo que é selecionado passa pelo processo de plastificação. Por mês, são usados até 30 metros de filtro plástico.
Esse método protege o conteúdo e dá boa aparência ao gibi. No jornal estão vetadas apenas calúnias, mentiras e obscenidades. Uma pitada de humor é sempre bem-vinda. “A gente só é capaz de dizer bem alguma coisa com humor. Nós damos as primeiras notícias para as últimas idades. No dicionário, gibi significa processo de divulgação. Essa é a explicação para o nome”, comentou Josué de Oliveira.
Os textos lidos na publicação também são escritos por correspondentes do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e da Inglaterra. O Gibi Aquático já teve colaboradores da Suécia e da Holanda. Escritores também publicam alguns textos. O jornal aquático, porém, só é jornal enquanto está dentro d’água. Quando deixa o mar, transforma-se em obra de arte. Chega, inclusive, a ser leiloado. Os lances variam de R$ 1 a R$ 100, e o valor arrecadado é investido na produção de novos exemplares. Alguns colecionadores já reúnem 500 números do jornal, que guarda semelhanças com o gibi tradicional: usa o recurso gráfico dos balões.
Josué define o produto como uma publicação pós-moderna, surrealista e multifacetada. “Ela transcende o moderno. Tem ainda alguma coisa de Salvador Dalí. É caricata. E é multifacetada porque não pode ser transformada em papel higiênico, mas pode ser usada, por sua forma peculiar, como abanador ou guarda-chuva”, disse. O conceito do jornal foi concebido pelo ex-integrante da Academia Pernambucana de Letras (APL), Pinto Ferreira. O gibi foi criado há 18 anos pelo médico Humberto Santos. Foi concebido ao reunir as Cartas da Praia, textos escritos por Josué de Oliveira, agregar fotografias e ter a sua textura plastificada. Hoje, com a maioridade já alcançada, tem médicos, educadores e juízes como membros do seu conselho emérito. Entre os fundadores, o jornal é considerado o sexto pilar da comunicação, depois da escrita hieroglífica, do papiro, da escrita cuneiforme, impressa de Gutenberg e da internet.
Josué Oliveira Lima, é jornalista e profundo conhecedor da cultura da nossa terra brasilis.
Fonte: Publicado no Jornal "O DIÁRIO DE PERNAMBUCO", em 30.10.2011.