Os achados
arqueológicos comprovam a presença humana na área do Concelho de Olhão desde o
Neolítico.
A ocupação romana deixou vestígios
importantes em
Olhão (tanques de salga de peixe descobertos em 1950, durante a
construção do
Porto de Pesca) e em Marim, junto à Ria, onde existia uma importante
villa
agrícola e pesqueira no séc. II ao IV. Aqui os romanos construíram
salinas e implementaram a indústria de pesca e salga de peixe, cujos
produtos eram depois exportados para todo o Império (alguns antigos
tanques de salga de peixe estão actualmente expostos no
Parque Natural da Reserva da Ria Formosa).
Com a queda do
Império Romano e a chegada dos Visigodos, Marim
continuou a ser um local importante, no qual foi encontrado uma lápide cristã
datada do séc. VI.
A ocupação árabe
iniciou-se no séc. VIII e apenas terminou no séc. XIII, tendo deixado memórias
e um legado importantíssimo em todo o Algarve mas, no caso específico de Olhão,
embora seja considerada uma terra de características acentuadamente mouriscas,
não se conhece qualquer construção importante deixada pelos árabes! Esta é uma
das singularidades históricas de Olhão: é a única terra com características mouriscas construída por europeus, sem qualquer
herança histórica mourisca! As razões que explicam uma tal singularidade são
expostas no final deste documento.
Após a expulsão dos
árabes do Algarve no séc. XIII, Marim continua a ser o povoamento mais
importante
da região que, aliás, poderá estar associada à origem de Olhão, tanto
por ter sido o primeiro ponto de fixação humana na região, como por ter
um grande olho de água doce e que
poderia ter dado origem ao topónimo de Olhão (no entanto, segundo a
maioria dos
historiadores, o grande olho de
água que deu origem ao topónimo não se encontrava em Marim, mas sim
perto do actual Jardim
João Serra - o "Poço Velho"). Efectivamente, no reinado de D. Diniz, em
1282, iniciou-se a construção da Torre de Marim, cujos restos ainda
existem na actual Quinta de Marim, para vigiar a Barra Velha
(na época a única entrada do mar para a Ria Formosa na região entre a
Fuseta e Faro) e proteger os habitantes dos ataques dos piratas mouros.
Esta Quinta foi desde logo uma rica empresa agrícola, atendendo à
fartura de água da sua nascente,
o que aliás está relacionado com a bonita
Lenda da Moura de Marim.
Mas foram as
invasões francesas que deram a oportunidade a Olhão de se afirmar politicamente.
Provavelmente devido ao seu espírito
igualitário, sem compromissos com quaisquer poderes instituídos, os
olhanenses protagonizaram no séc. XIX a primeira sublevação bem sucedida
contra a ocupação francesa (em 16 de Junho de 1808, actualmente o dia
da Cidade), que se tornou um rastilho decisivo para a expulsão dos
franceses do Algarve.
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Este momento histórico foi
determinante para a emancipação de Olhão, porque o rei D. João VI
(1767-1826), então refugiado no Brasil, recebeu a boa nova da expulsão
dos franceses através de um punhado de olhanenses que se meteram ao mar a
bordo do caíque "Bom Sucesso"
no dia 6 de Julho de 1808, numa viagem heróica, apenas orientados pelas
estrelas, as correntes marítimas e um mapa rudimentar! O rei,
reconhecido pela iniciativa da sublevação e pelo heroísmo da viagem
marítima, elevou o pequeno e desconhecido Lugar de Olhão a vila, em
1808, com o epíteto de Vila da Restauração
(ver alvará régio).
De 1826 a 1834 os olhanenses lutam
encarniçadamente por D. Pedro contra D. Miguel, transformando-se a vila
num dos mais fortes baluartes do Liberalismo no sul do País, resistindo
a apertados cercos e violentos ataques dos Miguelistas.
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Réplica do Caíque Bom Sucesso (embarcação com 18 metros e tripulada por cerca de 15 homens) lançada à água em 2002. |
Em 1842 é criada na vila uma Alfândega
que, em cerca de 20 anos, se torna o mais importante posto aduaneiro do
Algarve devido à pesca e outros produtos algarvios. Por esta razão em
1864 é criada uma Capitania do Porto e, em 1875, o Tribunal Judicial de
Olhão.
Na última metade do séc. XIX, a
actividade comercial desenvolvida pelos marítimos olhanenses, cresceu
imenso, estendendo-se até ao Mediterrâneo Oriental. São conhecidos nesta
época contactos com o Mar Negro (em 1871, um caíque capitaneado por
António da Silva Guerreiro, foi até Odessa, na Rússia, para comprar
cereais) e outras paragens como Oram, Nemours, Philippoville, Sardenha.
Nesta época, os olhanenses têm também um enorme impacto na colonização
do
litoral desértico do sul de Angola (saiba mais aqui).
São os contactos
comerciais e a emigração para Marrocos que leva muitos olhanenses a
construir as suas habitações de modo semelhante, cúbicas e caiadas de
branco, o que valeu a Olhão a alcunha de
"vila cubista".
Isto explica porque Olhão é o único exemplo de povoamento moderno e ocidental
(nunca foi um povoamento árabe) com características vincadamente mouriscas.
Na primeira metade do séc. XX, a
instalação da indústria de conservas de peixe, fez de Olhão uma vila
rica e extremamente produtiva. A primeira fábrica de conservas surgiu em
1881, fundada pela empresa francesa Delory, e em 1919 já existiam cerca
de 80 fábricas. Talvez expressão desse desenvolvimento foi o facto de o
Sporting Clube Olhanense ter-se consagrado Campeão Nacional de Futebol em 1924.
Infelizmente, na última metade do séc.
XX, a decadência da indústria conserveira e da própria pesca empobreceu
a vila que, no entanto, foi elevada a cidade em 1985.
Actualmente, Olhão renasce com o mesmo
espírito igualitário e de liberdade que a define. Continua a ter na
pesca um dos esteios da sua economia, mas começa a lançar-se de forma
decidida no turismo de qualidade, com a recente construção do porto de
recreio.
Em 16 de Junho de 2002, a autarquia lançou à água uma réplica do caíque "Bom Sucesso", que actualmente promove visitas e passeios guiados ao longo da Ria Formosa. Esta embarcação está ancorada entre os Mercados Municipais.
Fonte: www.olhao.web.pt