sexta-feira, 29 de abril de 2016

VELHO CHICO



A leitora Magdala Domingues Costa resolveu desabafar contra a “realidade desvirtuada” que a novela da Rede Globo, ‘Velho Chico’, faz do povo nordestino. E ela não deixa de ter razão.
O desabafo foi para o blog do Sr. Carlos Britto.
Confiram:
Senhor Carlos Britto,
Sou apenas uma cidadã indignada, apolítica, medianamente instruída e razoavelmente inteligente, que se insurge com o desserviço que a Rede Globo presta ao país retratando aspectos tão medíocres, falsos na novela “Velho Chico”.
Descobri seu blog e venho trazer minha contribuição em nome das duas nordestinas que trabalham comigo, que me pediram que reclamasse, neste português: “não somos burras, nossa gente não é assim, suja, feia”.
O que deveria ser uma ode ao grande rio genuinamente brasileiro, tornou-se uma narrativa tão cretina que elas estão furiosas, ofendidas e já se recusaram a acompanhar a novela…pasme!!
Pediram-me que escrevesse para alguém, protestando, acredite, torno a lhe assegurar.
Tenho 77 anos e prescindo da assistência delas – uma analfabeta, mas de grande sensibilidade – devido a limitações impostas pela minha saúde.
Afora minha visão “elitista”, realmente, não dá para ficar indiferente.
Onde o autor ou diretor de arte, sei lá que nome tenha, foi encontrar os tipos retratados?
Suas roupas maltrapilhas, sujas e suarentas, sugerem que os nordestinos daquelas paragens sejam horrorosos e quase asquerosos. Em pleno século XXI usam telefone celular, possuem uma “cooperativa” onde guardam arquivos e existem vários computadores. Entretanto as empregadas domésticas da fazenda parecem escravas alforriadas, à beira de fogões a lenha e coadores de café pré-históricos.
Como há um viés político que não consegui ainda entender, imagino-me diante de um quadro surrealista, sem a mínima lógica ou objetivo razoável.
Viajei muito pelo mundo dito desenvolvido procurando aprimorar minha instrução, aproveitando todas as oportunidades de enriquecer-me culturalmente. Nesse aspecto sou uma privilegiada, muito agradeço a Deus e busco levar a meus irmãos mais humildes um pouquinho de informação.
Na Noruega conversei com um guia instruidíssimo interessado em saber detalhes da história do Rio São Francisco, curioso sobre as nossas conhecidas carrancas às quais atribuía semelhança com as proas dos navios vikings, etc. Tomou mil anotações sobre o que expliquei como pude. Então o senhor pode imaginar como me sinto com esse achincalhe, no meu ponto de vista. O “coroné” Saruê – interpretado pelo Antonio Fagundes – de tão caricato parece um palhaço de circo mambembe. O coitado do padre é tão sujo e com um chapéu encardido na carapinha desalinhada que ofende a igreja católica mais “progressista”. E por aí vai.
Não há “liberdade de expressão” que justifique tanta mediocridade, nem viés político de esquerda que possa ser levado a sério. Seria interessante que uma produção desse porte, envolvendo vultosos gastos, contribuísse, além de focalizar os aspectos tristes que bem conhecemos e renegamos, como a jagunçada e os problemas das terras, fossem apresentados o que já conquistamos, a produção de frutas etc. Não sei de onde tiraram aquele “sotaque baiano”. Enfim…
A mim ofende o desrespeito à minha brasilidade, mas me incomoda sobremaneira a imagem deturpada que transmite sobre uma região tão bela, rica, de população tão afável e hospitaleira, cujos milhares de representantes migrantes, construíram, humildemente anônimos, as grandes metrópoles, como a que habito. Sou apenas um sussurro, mas empresto essa voz impotente para solicitar a outros mais jovens, como o senhor, que prezem nosso sentimento pátrio e valorizem nossa cultura e tradições.
Cordialmente
Magdala Domingues Costa/Leitora 


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